domingo, 22 de julho de 2007

Eu fico muito comovido com o relato sobre a descarga a vácuo. De fato fiquei curioso para ver como aquilo funcionava, mas tive medo de ser sugado pelo vácuo, então desisti. Infelizmente nunca defecarei naquele shopping, pois o vácuo me assusta. Boa sorte a todos aqueles que usarem a privada a vácuo, espero que ninguém seja sugado. Vamos ao que interessa então.

CAPÍTULO DOIS
SOMBRA
Frances cresceu. Fato que também não foi muito significativo. A infância de Francis não foi feliz, mas pra ele não foi triste, na verdade foi só um tempo que passou. Francis se acostumou, quando criança, a somente viver por viver, ele não via significado na existência. Porém, ele não se preocupava, tão pouco pensava nisso e então ia vivendo e vivendo.
Francis não teve amigos. Isso também não fez muita diferença para ele. Desde sempre preferiu ficar sozinho. De certo forma Francis se relacionava bem com as outras pessoas, mas o mesmo tempo não via nenhuma razão nisso. Ele não se sentia capaz de viver entre as outras crianças. Ele não entendia o porquê disso, era apenas uma criança, era inocente, então ele simplesmente ignorava e continuava vivendo.
Ninguém nunca pensou nada ruim de Francis, todos o achavam um bom garoto, era somente reservado, todos pensavam. O resultado disso era que Francis não era notado. Francis agia como uma sombra, alguém que estava ali, mas ao mesmo tempo não estava. De certo forma ele gostava disso. Francis não vivia em um mundo comum a todos, ele não pertencia de fato a esta Terra. Ambos simplesmente não poderiam coexistir.
O mundo fazia mal a Francis, e ele fazia mal ao mundo. Porém, enquanto Francis era somente uma criança ele não tinha consciência disso.
Cada dia que passava a diferença que existia entre Francis e o mundo aumentava. O desapego de Francis a vida crescia. Juntamente com a dúvida.
Ao entrar na adolescência, Francis começou a ter dúvidas sobre tudo que era possível. Não como um adolescente normal, que tem dúvidas sobre coisas normais. Francis duvidava da existência, do mundo, das outras pessoas. Francis passou a se desconhecer como ser humano. Sua mente era constantemente perturbada. “Por que tudo é tão incompatível?” pensava Francis. Tudo aquilo deveria existir de fato? O problema sou eu ou o mundo?
Francis percebeu então, que existe uma barreira no coração das pessoas. Pela primeira vez ele percebeu algo em comum entre ele e os outros. Senso de auto-preservação, talvez. Essa era a única possibilidade considerável que passava por sua cabeça. As pessoas se afastavam por puro medo. Medo de viver e de se ferir. Ao perceber isso, Francis ficou muito frustrado. Agora na sua cabeça circulava a pergunta: “Vale a pena existir de forma tão limitada?”
Várias vezes Francis esteve muito próximo de por fim a sua própria existência. Ele percebia então que era covardia. Fugir não era uma opção, pensava ele. Durante toda sua vida Francis não conseguiu encontrar uma significado de fato para tudo isso. Ele decidiu, então, ter como objetivo ir atrás de uma razão, uma circunstância ou simplesmente um motivo para continuar respirando. Algo pelo qual valesse a pena continuar vivendo. Ele estava cansado de viver de forma tão insignificante.
Francis observava a maneira como as outras pessoas viviam. Para ele tudo aquilo era patético. O resto do mundo não parecia levar a vida a sério. Nem pareciam se importar com isso. Ninguém sequer parava para pensar que sua vida era pífia e inútil. Francis não conseguia entender. As pessoas iriam viver, morrer e nem se dariam conta de que suas vidas passaram. Para Francis isso se tornou um fardo. Ele simplesmente não queria morrer sem encontrar uma razão para aquilo tudo.
Infelizmente, aquela razão parecia estar mais longe do que tudo. A cada segundo que Francis passava procurando um significado, algo que valesse a pena viver por, mais fundo Francis ia à sua mente, e mais distante Francis percebia que esse “algo” estava. Era um ciclo vicioso, quanto mais Francis tentava descobrir, mas ele se perdia. Agora não tinha mais volta, ou Francis encontraria uma razão para sua vida, ou morreria tentando.
Todos os pensamentos de Francis o levavam ao caos. Francis era um ser humano de fato. As outras pessoas eram somente marionetes. A humanidade de Francis custava caro, porém, toda sua dúvida e sofrimento derivaram desse atributo. Ele foi abençoado, a essência de Francis é a cura para o mundo corrompido pela futilidade. Era papel de Francis, aplicar a vacina. Ele só não estava pronto ainda. Ele sabia que estaria pronto para tudo isso quando fosse capaz de encontrar um motivo para existir.

***

Francis não demorou muito para descobrir que El era um prisioneiro. Prisioneiro de sua própria casa e dos seus pais. E ele precisava se libertar.
Sua casa era pequena e de maneira assustadora era confortável. A casa era tão adorável, mas tão estupidamente fútil, que Francis a odiava mais do que tudo. Tudo era limpo demais, fofo demais, falso demais. Para Francis ali não era sua casa, e sim uma prisão. As paredes terrivelmente brancas eram para ele como as paredes de um caixão. Os móveis bem acabados em madeira-de-lei eram os algozes de Francis, que estavam ali a postos para executá-lo quando fosse necessário. As fofas almofadas que adornavam a sala pareciam querer conduzi-lo para se u ultimo sono.
O pior lugar, porém, era o seu quarto. A cama, sempre bem arrumada, e a janela, sempre bem limpa não eram familiares a Francis. Era tudo ridiculamente adorável. A vista da janela dava para a rua. Todas as casas que jaziam naquela alameda eram muito parecidamente adoráveis. Todos os vizinhos sorridentes com seus poodles. Tudo pateticamente padronizado e bonito. Aquela alameda parecia ter saído de uma fábrica de produtos em série.
Até que chegava o pôr-do-sol. Aos fins-de-semana, a vizinhança se reunia na praça central, onde todos assistiam emocionados ao fenômeno. Juntos, os patéticos vizinhos cantavam baladas amorosas, que para eles, nada significavam de fato. Para Francis, esse era o clímax da sua tortura. Todo o mundo caía sobre suas costas, e ele não conseguia escapar.
Então, finalmente, chegava a noite. Com ela vinha o silencia. Francis gostava. Agora, o mundo era ele. A noite era um único conforto que Francis tinha na sua vida. Durante esse espaço de tempo, Francis sentia que fazia parte do mundo, e que o mundo fazia parte dele. A natureza parecia reconhecer Francis como um humano de fato e lhe confortava. Francis escapava da sua casa, furtivamente, como um fugitivo e atravessava a rua, até chegar à praça. Agora ela parecia bela e confortava Francis. Durante o dia ela era colorida demais, brilhante demais, alegre demais. Agora ela era monocromática e silenciosa, agora ela fazia bem a Francis. Nela havia uma fonte, uma grande fonte, onde um anjo derramava a água através de um jarro que carregava entre os braços, como um filho.
O som da água circulando hipnotizava Francis. Aquele barulho tão suave entrava pelos seus ouvidos como o chamado de Deus. Seus pés descalços saíam do asfalto, que o machucava e agora toca na grama, que o conforta. Seus pés agora são raízes que estão plantados naquela terra, que para ele, é mais confortável que qualquer cama. As flores, agora sem cor, exalam seu perfume que acalmam o coração de Francis e o levam para longe dali.
Deitado sobre a grama, Francis observa a noite que o abraça, as estrelas sobre sua cabeça formam um caminho que lhe dá esperanças de continuar sua busca. A natureza recebe Francis como um animal, que está de volta a sua casa. De fato, Francis é um animal. Um animal selvagem, um ser humano puro, em essência. Os outros foram domesticados, amaciados, vivem uma vida sem sentido e sem significado. A natureza agora mostra a Francis que ele deve seguir em frente e ser o diferencial no mundo ridículo em que habita.
Aquela noite era diferente. Apesar de estar acostumado a se recolher ao parque toda a noite, aquela era diferente. Por pouco tempo, a natureza que abraçava Francis lhe mostrou que era hora de sair daquilo tudo e se libertar da sua prisão. Francis estava distante naquele momento, quando é trazido de volta a realidade por um som incomodo.
Como um carrasco que anuncia a execução, uma televisão é ligada naquela alameda, na sua casa. Sua paz chegara ao fim novamente. Toda aquela bela imagem de perfeição foi abalada por um aparelho de TV, que trás Francis de volta ao mundo real. Obedecendo ao toque de recolher, Francis se levanta da grama e lava o rosto na fonte, bem em frente ao anjo. Olha nos olhos da estátua de mármore que, apesar de não emitir nenhum som, diz para Francis ir para casa, que tudo aquilo vai acabar em breve.
Francis obedece e atravessa a praça, alcançado o asfalto, que machuca seus pés com uma terrível dor. Ao chegar a casa ele vê seus pais assistindo a televisão como sempre. Dirige-se então ao seu quarto, da mesma forma que um condenado vai até a forca. Conforma-se e deita na sua cama, onde não consegue resistir ao sono e adormece consciente de que tudo aquilo vai acabar logo.
Na sala os pais de Francis suspeitaram que uma sombra passou por ali, dão de ombros e voltam a assistir televisão.

Um comentário:

Maricot's disse...

Sabe, eu me considero fã número 0 de Francis
aeiuhaeuaehiaeuhea

xD