domingo, 22 de julho de 2007

Eu fico muito comovido com o relato sobre a descarga a vácuo. De fato fiquei curioso para ver como aquilo funcionava, mas tive medo de ser sugado pelo vácuo, então desisti. Infelizmente nunca defecarei naquele shopping, pois o vácuo me assusta. Boa sorte a todos aqueles que usarem a privada a vácuo, espero que ninguém seja sugado. Vamos ao que interessa então.

CAPÍTULO DOIS
SOMBRA
Frances cresceu. Fato que também não foi muito significativo. A infância de Francis não foi feliz, mas pra ele não foi triste, na verdade foi só um tempo que passou. Francis se acostumou, quando criança, a somente viver por viver, ele não via significado na existência. Porém, ele não se preocupava, tão pouco pensava nisso e então ia vivendo e vivendo.
Francis não teve amigos. Isso também não fez muita diferença para ele. Desde sempre preferiu ficar sozinho. De certo forma Francis se relacionava bem com as outras pessoas, mas o mesmo tempo não via nenhuma razão nisso. Ele não se sentia capaz de viver entre as outras crianças. Ele não entendia o porquê disso, era apenas uma criança, era inocente, então ele simplesmente ignorava e continuava vivendo.
Ninguém nunca pensou nada ruim de Francis, todos o achavam um bom garoto, era somente reservado, todos pensavam. O resultado disso era que Francis não era notado. Francis agia como uma sombra, alguém que estava ali, mas ao mesmo tempo não estava. De certo forma ele gostava disso. Francis não vivia em um mundo comum a todos, ele não pertencia de fato a esta Terra. Ambos simplesmente não poderiam coexistir.
O mundo fazia mal a Francis, e ele fazia mal ao mundo. Porém, enquanto Francis era somente uma criança ele não tinha consciência disso.
Cada dia que passava a diferença que existia entre Francis e o mundo aumentava. O desapego de Francis a vida crescia. Juntamente com a dúvida.
Ao entrar na adolescência, Francis começou a ter dúvidas sobre tudo que era possível. Não como um adolescente normal, que tem dúvidas sobre coisas normais. Francis duvidava da existência, do mundo, das outras pessoas. Francis passou a se desconhecer como ser humano. Sua mente era constantemente perturbada. “Por que tudo é tão incompatível?” pensava Francis. Tudo aquilo deveria existir de fato? O problema sou eu ou o mundo?
Francis percebeu então, que existe uma barreira no coração das pessoas. Pela primeira vez ele percebeu algo em comum entre ele e os outros. Senso de auto-preservação, talvez. Essa era a única possibilidade considerável que passava por sua cabeça. As pessoas se afastavam por puro medo. Medo de viver e de se ferir. Ao perceber isso, Francis ficou muito frustrado. Agora na sua cabeça circulava a pergunta: “Vale a pena existir de forma tão limitada?”
Várias vezes Francis esteve muito próximo de por fim a sua própria existência. Ele percebia então que era covardia. Fugir não era uma opção, pensava ele. Durante toda sua vida Francis não conseguiu encontrar uma significado de fato para tudo isso. Ele decidiu, então, ter como objetivo ir atrás de uma razão, uma circunstância ou simplesmente um motivo para continuar respirando. Algo pelo qual valesse a pena continuar vivendo. Ele estava cansado de viver de forma tão insignificante.
Francis observava a maneira como as outras pessoas viviam. Para ele tudo aquilo era patético. O resto do mundo não parecia levar a vida a sério. Nem pareciam se importar com isso. Ninguém sequer parava para pensar que sua vida era pífia e inútil. Francis não conseguia entender. As pessoas iriam viver, morrer e nem se dariam conta de que suas vidas passaram. Para Francis isso se tornou um fardo. Ele simplesmente não queria morrer sem encontrar uma razão para aquilo tudo.
Infelizmente, aquela razão parecia estar mais longe do que tudo. A cada segundo que Francis passava procurando um significado, algo que valesse a pena viver por, mais fundo Francis ia à sua mente, e mais distante Francis percebia que esse “algo” estava. Era um ciclo vicioso, quanto mais Francis tentava descobrir, mas ele se perdia. Agora não tinha mais volta, ou Francis encontraria uma razão para sua vida, ou morreria tentando.
Todos os pensamentos de Francis o levavam ao caos. Francis era um ser humano de fato. As outras pessoas eram somente marionetes. A humanidade de Francis custava caro, porém, toda sua dúvida e sofrimento derivaram desse atributo. Ele foi abençoado, a essência de Francis é a cura para o mundo corrompido pela futilidade. Era papel de Francis, aplicar a vacina. Ele só não estava pronto ainda. Ele sabia que estaria pronto para tudo isso quando fosse capaz de encontrar um motivo para existir.

***

Francis não demorou muito para descobrir que El era um prisioneiro. Prisioneiro de sua própria casa e dos seus pais. E ele precisava se libertar.
Sua casa era pequena e de maneira assustadora era confortável. A casa era tão adorável, mas tão estupidamente fútil, que Francis a odiava mais do que tudo. Tudo era limpo demais, fofo demais, falso demais. Para Francis ali não era sua casa, e sim uma prisão. As paredes terrivelmente brancas eram para ele como as paredes de um caixão. Os móveis bem acabados em madeira-de-lei eram os algozes de Francis, que estavam ali a postos para executá-lo quando fosse necessário. As fofas almofadas que adornavam a sala pareciam querer conduzi-lo para se u ultimo sono.
O pior lugar, porém, era o seu quarto. A cama, sempre bem arrumada, e a janela, sempre bem limpa não eram familiares a Francis. Era tudo ridiculamente adorável. A vista da janela dava para a rua. Todas as casas que jaziam naquela alameda eram muito parecidamente adoráveis. Todos os vizinhos sorridentes com seus poodles. Tudo pateticamente padronizado e bonito. Aquela alameda parecia ter saído de uma fábrica de produtos em série.
Até que chegava o pôr-do-sol. Aos fins-de-semana, a vizinhança se reunia na praça central, onde todos assistiam emocionados ao fenômeno. Juntos, os patéticos vizinhos cantavam baladas amorosas, que para eles, nada significavam de fato. Para Francis, esse era o clímax da sua tortura. Todo o mundo caía sobre suas costas, e ele não conseguia escapar.
Então, finalmente, chegava a noite. Com ela vinha o silencia. Francis gostava. Agora, o mundo era ele. A noite era um único conforto que Francis tinha na sua vida. Durante esse espaço de tempo, Francis sentia que fazia parte do mundo, e que o mundo fazia parte dele. A natureza parecia reconhecer Francis como um humano de fato e lhe confortava. Francis escapava da sua casa, furtivamente, como um fugitivo e atravessava a rua, até chegar à praça. Agora ela parecia bela e confortava Francis. Durante o dia ela era colorida demais, brilhante demais, alegre demais. Agora ela era monocromática e silenciosa, agora ela fazia bem a Francis. Nela havia uma fonte, uma grande fonte, onde um anjo derramava a água através de um jarro que carregava entre os braços, como um filho.
O som da água circulando hipnotizava Francis. Aquele barulho tão suave entrava pelos seus ouvidos como o chamado de Deus. Seus pés descalços saíam do asfalto, que o machucava e agora toca na grama, que o conforta. Seus pés agora são raízes que estão plantados naquela terra, que para ele, é mais confortável que qualquer cama. As flores, agora sem cor, exalam seu perfume que acalmam o coração de Francis e o levam para longe dali.
Deitado sobre a grama, Francis observa a noite que o abraça, as estrelas sobre sua cabeça formam um caminho que lhe dá esperanças de continuar sua busca. A natureza recebe Francis como um animal, que está de volta a sua casa. De fato, Francis é um animal. Um animal selvagem, um ser humano puro, em essência. Os outros foram domesticados, amaciados, vivem uma vida sem sentido e sem significado. A natureza agora mostra a Francis que ele deve seguir em frente e ser o diferencial no mundo ridículo em que habita.
Aquela noite era diferente. Apesar de estar acostumado a se recolher ao parque toda a noite, aquela era diferente. Por pouco tempo, a natureza que abraçava Francis lhe mostrou que era hora de sair daquilo tudo e se libertar da sua prisão. Francis estava distante naquele momento, quando é trazido de volta a realidade por um som incomodo.
Como um carrasco que anuncia a execução, uma televisão é ligada naquela alameda, na sua casa. Sua paz chegara ao fim novamente. Toda aquela bela imagem de perfeição foi abalada por um aparelho de TV, que trás Francis de volta ao mundo real. Obedecendo ao toque de recolher, Francis se levanta da grama e lava o rosto na fonte, bem em frente ao anjo. Olha nos olhos da estátua de mármore que, apesar de não emitir nenhum som, diz para Francis ir para casa, que tudo aquilo vai acabar em breve.
Francis obedece e atravessa a praça, alcançado o asfalto, que machuca seus pés com uma terrível dor. Ao chegar a casa ele vê seus pais assistindo a televisão como sempre. Dirige-se então ao seu quarto, da mesma forma que um condenado vai até a forca. Conforma-se e deita na sua cama, onde não consegue resistir ao sono e adormece consciente de que tudo aquilo vai acabar logo.
Na sala os pais de Francis suspeitaram que uma sombra passou por ali, dão de ombros e voltam a assistir televisão.

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Privada a vácuo

PRIVADA A VÀCUO



-Estava eu ,feliz e alegre, em casa fazendo ,ou melhor, esperando a minha mãe terminar de fazer para mim um sandwich, na verdade era um chesseburger mas isso n importa.Sentado em frente ao computador, como de costume, conversava com os meus amigos...O clima era muito divertido, tocávamos experiências, até que um dos meus colegas solta uma “BOMBA”!!Uma afirmativa que mudará a minha vida completamente desde então...Mas para você entender melhor, explicarei com mais detalhes.O assunto era a abertura de um novo shopping, como ele era, se tinhas muitas lojas...Até q então falamos do sanitário!E a “bomba” a qual me referia era está...SE PREPAREM...”ALEX DIZ: EU FUI LÀ ONTEM< CARA NO SANIT`RAIO A DESCARGA È A VÀCUO!.”..........................Eu fiquei parado uns cinco minutos pensando como uma descarga poderia ser a vácuo!O assunto de a conversar já não esse a muito tempo mas essa dúvida perdurava na minha mente!-ALGUEM PODE ME DIZER COMO FUNCIONA UMA DESCARGA A VÁCUO???!!!Aquilo n saia da minha cabeça, eu já agüentava mais!A comida já sem gosto na minha boca, a água que entrava salgada queimavam meus lábios.Meus amigos, era uma angustia o que estava passando, tenho q declarar...Aquela noite eu não dormi, pensei em todas os possíveis mecanismos que poderia, juntos, criar tal artefato.Pensei até um buraco negro alojado na no fundo do cano puxando todo ar e luz que havia ali!EU suava frio e constante, até que uma hora eu falei: ”Eu tenho que ir ver! Preciso ir ao banheiro deste shopping!”.Só que já era 3:20 da madrugada, nem se eu quisesse (E eu queria muito), eu iria lá ver o objeto que pairava nos meus pensamentos.Finalmente dormi o sono dos condenados, porém este sono era muito diferente, eu não estava apenas condenado a essa indagação, eu estava curiosíssimo!Era impressionante como uma simples (Eu disse simples?) descarga pode mudar a vida de uma pessoa.Acordei no dia seguinte e de imediato fui perguntar a minha mãe se poderia me levar ao shopping recém-inaugurado e outra “bomba” foi lançada sobre mim “Minha mãe só poderia ir a noite! ”AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA, eu não vou agüentar!Eu preciso ir ver essa descarga...”. Não era só uma descarga, era uma descarga Á VÁCUO! Como era possível essa dúvida ainda estava na minha cabeça ,não poderia esperar até a noite para isso!Resolvi ir de táxi!De imediato fui tomar banho, esqueci de todos os passos principais de um banho perfeito ,estivera debaixo d’água somente por 1:37 segundos cronômetrados para não me atrasar ao meu encontro!Peguei qualquer táxi na rua!Poderia pegar qualquer tipo de motorista, mas tive que pegar logo o mais lerdo dos mais lerdos taxistas do país...Porque não do mundo!!!Um senhor, que já estava SAINDO da terceira idade...Como um senhor daquele ainda dirigia!-Pensava comigo mesmo-Meus Deus ele fez um percurso de 5 minutos em exatos 25 minutos e 47 segundos!Foi quando eu tive que tomar uma atitude:”PARA!!!”....”MEU SENHOR SERÁ QUE DÁ PARA iR MAIS RÁPIDO, EU ANDANDO IRIA MAIS RÁPIDO!!!”.O senhor esbugalhou os olhos e falou:”Já que está com tanta pressa porque não disse antes?”!De repente o velho pisou tão fundo no pedal do acelerador que a minha cabeça,por inércia, foi levada para trás!O velho desviava dos outros automóveis com uma astúcia impressionante!O medo tomou conta do meu ser, de certo que eu queria ver como a descarga (Á Vácuo, não se esqueça)funcionava o mais rápido possível , mas eu não queria morrer antes deste fato acontecer.Foi sem dúvida a experiência mais assustadora de toda a minha vida!Chegamos ao shopping em tempo recorde.Paguei ao velho, mas acho que paguei mais que deveria, estava tão tonto que nem consegui contar a quantia corretamente!Fui correndo aos portões do shopping , numa velocidade que quando deparei com a porta trancada dei-me com a minha testa no vidro da mesma, surgindo um galo extremamente grande na lado oeste da minha testa!Tal fato só fez aumentar mais a tortura.”PORQUE ESSA MALDITA PORTA ESTA TRANCADA???”.Olhei o meu relógio, que apontava 88:5959! Mas como eu estava muito tonto no momento deduzi que era 8:59 da manha.A terceira “bomba” foi lançada!BUMMM!O shopping só abria ás 9:00!”DÁ PRA ACREDITAR”!Aquela fora o minutos mais longo da minha existência.Contei cada maldito segundo!Mais ficava feliz também, pois a cada segundo que passava estava mais perto do meu objetivo!...58....59....1minuto!Dava 9:00 da manha, hora de se abrir o shopping porém não havia algum movimento para tal!Fiquei desesperado!Gritei a todos e a tudo...Invoquei até santo para derrubar aquela porta!Declaro que chorei!Me encostei no enorme portão de vidro e deslizando sentei no chão!CHOREI!Queria tanto ver a “DESCARA À VÀCUO!”...Mas porque dava tanto azar?Quando do nado o meu encosto sumirá.A porta estava finalmente aberta e dei-me com a cabeça no chão e os olhos nos olhos do guarda que abrirá a porta, perguntou-me se estava bem.Eu estava ótimo...Sentia o Cheiro do ar-condicionado e o ar das roupas novas e dos alimentos sendo confeccionados!OH!O cheiro das roupas novas e dos alimentos e o ar gelado do ar-condicionado!estava em êxtase!Poucos segundos agora, juro que corria mas via cada passo meu em câmera lenta!Subi todas as escadas, desci todas as escadas, subi e desci os elevadores!Planejei todo o meu dia de hoje!tudo dera errado e porque não mais uma coisa?EU N SABIA ONDE FICAVA O BANHEIRO!!!Aonde eu estava não tinha nenhuma placa me direcionando ou alguma alma viva para me informar,sai correndo(de novo).Até que achei um guarda, ele dirigia tranqüilamente, você escutou bem, DIRIGIA!Um certo tipo de transporte de duas rodas...Isso não interessa! O problema foi q o guarda não parou para me informar !Naquele momento nada mais me importava mais, so queria saber o caminho ao banheiro!Então já ofegante perguntei ao guarda, que supostamente era meio surdo, pois tive que repetir umas 4 vezes a pergunta até entender!Deu-me as coordenadas e se distanciou.Parei! Respirei fundo e voltei a correr.Finalmente cheguei a porta do banheiro, ela estava semi-aberta.ENTREI!Um banheiro muito bem arejado, limpo, digno de um hotel de 4 estrelas, só faltava as torneiras de outro, já q eu tinham a descarga á vácuo!Andei até a área dos sanitários, tinha cerca de 8 cabines para eu escolher!Qual deveria escolher?Escolhi a quinta, no sentido do homem barrigudo fazendo xixi até o barbudo jogando o papel no lixo.Abri a porta e me deparei com a privada...Emocionei-me!Aleluia, tudo o que fiz até aquele momento me levou até esta instante!Abri a minha calça, levantei a tampa e fiz o xixi mãos prazeroso da minha vida!Um xixi orgulhoso, o momento foi tão perfeito que consegui não molhar as bordas do mictório!IUPI!Estava preste a completar meu sonho!Parecia uma privada comum, mas escondia o mistério que rondava a minha cabeça!Direcionei o meu dedo para dar a descarga quando vi em cima da mesma um adesivo e fiquei chocado.”Na hora da descarga fechar a tampa”.Como assim?Eu não vou como acontece?Porque não colocaram tampas transparentes?NÂÂÂÂOOO!Eu precisava ver como acontecia!E se eu deixasse aberto?Fiquei com medo, pois o vácuo que ali se tornaria presente poderia me sugar para dentro do sanitário!Seria aquilo possível?O feitiço virou contra o feiticeiro!Eu agora temia a dar a descarga.Mas não poderia desistir agora, nessa altura do campeonato!Eu vou ver como funciona, não importo com ou o que acontecerá depois!Poderia estar ali a segundos do meu triunfo ou a segundos do meu óbito!è agora ou nunca!Direcionei mais uma vez o meu dedo ao dispositivo que acionava a descarga!Apertei!Na mesma hora um barulho imenso tomou conta minha cabine, mas eu n tirava os olhos daquela privada!VITÒRIA, diria você!Decepção diria eu!Tirando o ensurdecedor barulho nada me parecia diferente!A mesma água que adentra a minha privada ali também o fazia!Não era totalmente a vácuo ou nem mesmo tinha um buraco negro ali!Sai da cabine cabisbaixo e lembrei de todos os sacrifícios que fiz até chegar ali!Desolado e sozinho sai do shopping, nem mesmo as lindas roupas ou aparelhos eletrônicos me interessavam!Olhei para o seu , estava lindo , sem nuvens!Um táxi se aproximou e entrei, falei ao motorista o endereço e relaxei, agora não me interessava mais chegar depressão ao meu destino!Fiz um balanço do que me ocorrei naquele dia, e olhando para a “face” lateral do shopping percebi que a minha vida nada tinha mudado!Eu continuava o esmo, com os mesmo costumes, qualidade e defeitos!Só que agora olho para as situações de modo mais realista, deixei a minha visão de descarga a vácuo para trás!

(Anônimo)

domingo, 15 de julho de 2007

A Morte de Frances - Cap. 1 : O Nascimento de Frances

A Morte de Francis

CAPÍTULO UM

O NASCIMENTO DE FRANCIS

Muitas famílias desejam ter filhos. Outras não. Muitas vezes um filho é a única esperança que uma família tem de continuar unida, ou de encontrar a felicidade. Paradoxalmente, muitas famílias encaram o nascimento de um filho como uma benção divina, outras como um evento indesejado, ou um castigo. Alguns têm filhos como interesses monetários. Outras acreditam que isso é um mero acontecimento biológico, reprodução da espécie. Para algumas pessoas, porém, um filho não significa nada.

O dia estava pacato como sempre. Todas as famílias que moravam naquela adorável alameda estavam em suas respectivas casas, onde repousavam naquela bela tarde de domingo. O dia era, absolutamente, um dia qualquer. Exceto para aquele adorável casal, que naquele dia teria um filho. Ou não.

Francis nasceu. Não foi espetacular. Nem mesmo emocionante. Ninguém chorou, nem o próprio bebê. “Foi melhor assim” pensou o pai de Francis. As enfermeiras e os médicos se perguntavam como um casal tão adorável teria um bebê tão mirrado e sem graça quanto aquele. “Espero que continue assim” pensou o pai de Francis. De fato ele estava certo.

Seu nascimento não foi noticiado. Nem festejado. Muito menos planejado. Durante um pôr-do-sol de domingo Francis foi concebido. O hospital estava vazio. O belo casal chegou de forma bem tranqüila, como se tivessem ido à esquina comprar um maço de cigarros. “Espero que eles tenham televisão” pensou o pai de Francis. Novamente ele estava certo.

O hospital estava vazio, como de costume. Os funcionários conversavam discutindo o último capítulo daquela novela, assunto que gerava comoção geral. Aconteceu certa agitação com a chegada da família de Francis, já que era um fato raro clientes naquele pequeno hospital suburbano. A família foi atendida por uma horda de desocupados, que levaram a mãe para a sala de cirurgia, enquanto o pai, irritado, resolvia as burocracias. Todas as enfermeiras pareciam muito mais empolgadas que o próprio casal, que parecia aborrecido com a situação inusitada. Resolvidos os problemas burocráticos (e monetários, com tremendo desgosto), o pai de Francis se contentou que teria que esperar, assistindo à televisão com os outros funcionários. Freqüentemente checava o relógio, com esperanças que pudesse chegar à casa a tempo de ver o futebol.

Não houve problemas durante o parto. A mãe de Francis foi anestesiada. Ela se recusou a sentir até a dor. A única coisa que se ouvia no hospital era a televisão da sala de espera, na qual o pai de Francis esperava que o parto acabasse irritado com falta de conforto das poltronas. A televisão noticiava um homicídio que ocorreu na noite anterior. Um garoto, viciado em drogas, matou os pais durante uma crise de abstinência. “Tomara que acabe logo” pensou o pai de Frances. Continuou correto.

O parto foi rápido, para alivio do médico, que estava no final do seu plantão quando o casal chegou. Simplesmente concluiu seu serviço, entregou o bebê nas mãos da enfermeira assistente e saiu apressado para chegar logo em casa com esperanças de assistir ao futebol. De forma bem grosseira o médico entregou a criança nos braços da enfermeira mais próxima, sem todo aquele romantismo que é comum em filmes. A enfermeira, por sua vez, checou o sexo do bebê, e descobriu que era um menino. Em sua mente veio à lembrança de seu parto, e como em todos os partos que já participara, deixou escapar lágrimas de alegrias ao ver aquela nova vida florescer.

- É um menino! – Disse à enfermeira que parecia ser a única a esboçar um sorriso em todo o hospital.

- É... – Respondeu a mãe, sem um pingo de empolgação.

A mãe, ao contrário da enfermeira, não parecia muito feliz. Nem ao menos pegou o filho em seus braços, como normalmente é feito após o parto. “Coitado do bebê, tão feinho” pensou a enfermeira, que o mantinha seguro em seus braços. Francis era pequeno demais para um bebê normal, parecia que seu desenvolvimento não fora completo, apesar de ter passado nove meses inteiros na barriga de sua mãe. Lembrava um boneco velho que só respirava.

O primeiro banho foi administrado na sala do parto, onde Francis finalmente esboçou alguma reação. Parecia gostar da água, apesar do pouco contato que tivera. A enfermeira estranhou, nunca tinha visto um bebê se manifestar positivamente daquela forma durante o primeiro banho. “Parece que ele gosta de água, então” pensou ela, corretamente.

O mirrado bebê foi levado para o berçário, onde ficou sozinho, ele era o único que havia ali. A enfermeira tinha esperanças de que o pai ou a mãe fossem vê-lo, mas ela desistiu logo. “Devem estar cansados” pensou ela. “Um bebê tão feio para um casal tão bonito e simpático, é uma pena” pensou novamente. Todas as enfermeiras estavam realmente empolgadas com Francis. Fazia um tempo razoável que não aparecia um bebê por ali. Porém, todas elas perdiam o ânimo bem rápido, quando davam uma breve olhada nele. Não era bonito, nem fofinho, muito menos engraçado. Parecia morto, muitas vezes, se não fosse a respiração.

Depois do parto o pai de Francis voltou para casa, que não era muito longe dali, já que procuraram a maternidade mais próxima da casa. A mãe de Francis passou a noite lá, para observação. Com a chegada da noite Frances começou a se manifestar. A enfermeira que cuidava do berçário a noite estava espantada, a criança que parecia um brinquedo sem vida finalmente manifestava alguma humanidade. Isso a deixou feliz, geralmente os bebês alegravam um pouco o lugar e deixavam o serviço menos monótono. Porém, sempre que ela se aproximava de Francis ele não demonstrava felicidade, muito pelo contrário, Francis chorava. De forma muito interessante aquela criança se entretinha sozinha.

No dia seguinte a mãe de Francis teve alta. Todos na maternidade estranharam não aparecer nenhum parente, nem amigo da família. Como aquele casal tão adorável não tinha nenhum familiar tão adorável quanto para visitar o rebento? Todos os funcionários da maternidade ficaram satisfeitos com a saída de Francis e sua família. Depois do seu nascimento a maternidade parece ter entrado em um clima muito soturno.

Com a saída de Francis e sua família do hospital os funcionários ficaram de certa forma mais tranqüilos. Havia um sentimento geral de decepção. Como um casal tão adorável poderia ter um filho como aquele? A criança que parecia ser a última chance daquela pequena maternidade de recuperar um pouco de alegria falhou. Agora todos pareciam mais abatidos que o normal. Poucas semanas depois a maternidade fechou.

A família retornava para casa no carro, a mãe carregava o filho de forma displicente, sem ligar muito. O bebê permanecia em silêncio.

- Já escolheu o nome? – Perguntou o pai, de forma mal humorada.

- Frances – Respondeu a mãe com igual mal humor.

- Por que esse nome?

- Eu vi na televisão uma vez – Respondeu ela novamente, sem nem sequer olhar para seu filho.

Frances foi batizado na Igreja Católica. Os pais não sabiam realmente por que fazer aquilo. Mas fizeram de qualquer forma. Durante o batismo os pais de Frances o viram chorar pela primeira vez. “Que criança estranha” pensou o padre. Durante o batismo ocorreu à família o mesmo clima que durante o nascimento. “Espero que acabe logo” esse pensamento passava muito pela cabeça dos pais de Francis. Era realmente muito estranho, eles não queriam estar ali, batizando o único filho, mas o dever católico era mais forte, quase como uma obrigação. “O que os vizinhos vão falar se não batizarmos nosso filho?” pensava o pai de Francis.

A maternidade na qual Francis nasceu não durou muito. Algumas semanas após seu nascimento, ela faliu por falta de clientela. No seu lugar construíram uma bela e vistosa lanchonete. Que também não teve muita sorte, sempre acontecia uma briga entre jovens bêbados, ou assaltos, resultando na falência da lanchonete. O prédio então foi adquirido pelo governo, que o transformou em um abrigo para artistas falidos.

Será que Francis fazia mal ao mundo? Ou o mundo fazia mal a Francis? Essa foi a herança deixada a ele. A dúvida e os olhares tortos. O mau agouro, a sensação de que sua vinda ao mundo não era uma benção, e sim uma maldição. Francis nasceu, e isso não significou nada.

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Boi's Back

Pessoas, humanos. Boi's Back. O Boi passou por um momento ruim da sua vida, ele chorou, contribui para o aquecimento global com gases, vagou pelo universo vazio e sombrio. Mas o boi finalmente encontrou um significado para sua vida e agora está de volta.

A longa jornada do boi será narrada em um livro que será escrito por ele próprio, e seus capítulos postados aqui.

O Boi pede desculpas pela ausência.

O primeiro capítulo vai sair em breve.

Enquanto isso, aproveitem uma poesia escrita pelo boi durante sua jornada.

Silêncio.

Feche os olhos.
Escute o silêncio.
Não há nada lá

Ruidoso no começo,
pode parecer.

Busque o silêncio.
Melhor Amigo.
Pior Inimigo.

Fonte de prazer e agonia.

Como um raio de sol,
como as trevas que nos cobrem,
o silêncio assusta, conforta.

Mais valioso,
que qualquer palavra.

Silêncio,
abraço,
olhar,
dor.

Impenetrável.

Em tua essência ele reside,
em vosso coração está plantado,
só falta,
encontrá-lo.

(daniel marques)