quinta-feira, 15 de novembro de 2007

O mistério da leveza do Boi

O Boi esteve pensando durante muito tempo dentro de uma caverna fria e escura no sul da Escócia. Longos trinta e tantos dias. Dias chuvosos, ensolarados, nublados e cinzentos, tudo ao mesmo tempo.Na verdade o Boi não sabe como o tempo estava, pois passou esses longos trinta e tantos dias dentro de uma caverna fria e escura no sul da Escócia. Então ele resolveu sair de lá e veio até mim num sonho chuvoso e nublado a mais ou menos dois dias atrás.

Disse-me que passou esse tempo todo pensando e que conhecera um Louva-Deus muito simpático. Pensou em dias, vindas, voltas, sopros,capim e muitas miniaturas de galinhas D'Angola. Creio que todos esses pensamentos transformaram o Boi num boi melhor e mais supremo, já que ele pediu para que eu mostrasse ao mundo um pouco do que ele pensou. Foi exatamente assim (PALAVRAS DO BOI, PALAVRAS DA SALVAÇÃO):

"Não consigo parar de pensar nas voltas que dei para chegar até essa caverna fria e escura no sul da Escócia. Não sei como parei aqui, mas penso que deve ter sido uma viagem longa e cansativa, pois meus cascos doem. Essa dor não é pior do que a traição de Mimosa, mas dói. Dói tanto ou mais que a dor de grampear o próprio dedo, embora eu não tenha dedos. Essa dor me dá muito medo de perder o rabo. Penso que se fosse meu rabo que tivesse sido arrastado por quilômetros até chegar nessa caverna, provavelmente eu não suportaria nem mais um segundo. Cometeria suicídio. Me jogaria de cima de uma pedra. Não,melhor: subiria na pedra.

Ainda bem que tenho a companhia louvável de um Louva-Deus abandonado pela biosfera. Contou-me que vive nessa caverna para mais de quase 3 semanas e que só não é pior do que quando morou atrás de um pote de biscoito numa fazenda mais ao norte. Penso se a vida de Adalberto, o louvável Louva-Deus, não teria sido melhor se ele tivesse simplesmente assumido sua condição de inseto e passado a viver em meio a outros insetos.'Sou anti-social, tenho medo de outros insetos', foi o que disse. Quanta besteira.

Tenho medo de outros bois mas nem por isso passo a evitar meu habitat natural. É isso o que todos deveriam fazer: assumir sua espécie, seu habitat, seu medo de outros insetos.Ou então deveriam colecionar miniaturas de galinhas D'Angola. Confesso que nunca tive o prazer de colecionar nada além de pedras e beijos de Mimosa, mas acredito que , se eu tivesse tempo e uma mente menos brilhante, provavelmente esse seria meu hobbie. E tenho dito."

AVE BOI.

Mariana Assisovich Perchov, Ordem de Merlim, 1ª Classe.

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